No próximo dia 6 de outubro, o Brasil realizará eleições municipais para a escolha de prefeitos e vereadores. De acordo com a Confederação Nacional dos Municípios (CNM), o País conta atualmente com 5.568 entidades municipais.
Além desses, o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) inclui duas entidades conhecidas como "municípios-equivalentes": Brasília, que é coextensiva ao Distrito Federal, e o distrito estadual de Fernando de Noronha, em Pernambuco.
Para esclarecer dúvidas sobre os principais pontos a serem observados – especialmente pelos cristãos – nesta reta final da campanha eleitoral, o Guiame entrevistou o advogado e pesquisador, Joshua Fantini Blake.
Membro da ANAJURE (Associação Nacional de Juristas Evangélicos), o Dr. Blake destaca que o voto deve ser compreendido como uma responsabilidade pessoal, especialmente para o eleitor cristão, que só deve deixar de votar em caso de real impossibilidade. Ele enfatiza ainda que o cristão não deve permitir que outros escolham seus candidatos.
“O voto é um dever legal de todo cidadão no Brasil: o cristão deve deixar de votar somente quando realmente não puder comparecer. O exercício desse dever é personalíssimo: o cristão não deve terceirizar sua escolha, deixando que outra pessoa (quem quer que seja) decida por ele. O voto é uma responsabilidade individual, que deve ser exercida de maneira consciente e informada. Votar bem é uma forma de servir e amar sua comunidade”.
Joshua Fantini Blake, membro da ANAJURE. (Foto: Instagram/fantiniblake)
Filho de ex-missionários da YWAM (JOCUM) e tendo crescido na Inglaterra, o Dr. Joshua Blake é bacharel e mestre em Direito pela Universidade FUMEC. Ele concedeu a seguinte entrevista ao Guiame:
Guiame: Como os eleitores podem se proteger de propagandas enganosas e discursos manipulativos durante o período eleitoral?
J.F.B.: Nunca devemos subestimar o valor da oração – até mesmo em campanha política. Deus traz à luz o que está nas trevas, promove e derruba quem quer. Em termos mais naturais, quem tem ouvidos para ouvir, que ouça!
Devemos prestar atenção não apenas nos cortes, nos memes e nas falas chamativas que viralizam, mas na substância do que um candidato e sua campanha efetivamente propõem fazer.
O candidato que já tem uma trajetória na política, deve ser avaliado também com base no que já fez e deixou de fazer; o novato, deve comprovar – no limite de sua inexperiência – capacidade técnica e pessoal que justifique uma aposta nela por parte do eleitorado.
G.: Como combater o abuso do poder religioso e "voto de cajado"?
J.F.B.: Não permitindo que outros escolham seus candidatos, conforme dissemos anteriormente. O cristão deve combater o famoso “voto de cajado”. Líderes podem compartilhar seu próprio voto, informar seu rebanho e provocar conversas importantes sobre política e religião. Porém, o bom líder incentiva seu rebanho a amadurecer, a pensar de forma crítica e bíblica por si mesmo, e não depender dele para exercer sua cidadania. O bom rebanho confronta e bota limite no líder que busca exercer qualquer controle excessivo.
Não há nada bíblico, ou lícito, em um pastor decidir em quem sua igreja deverá votar ou prometer votos a um candidato de sua escolha. A coação ou pressão para votar conforme orienta o pastor é um abuso de poder, o uso da influência espiritual para direcionar votos. O voto é um direito individual, e o cristão deve exercê-lo de maneira livre e consciente, sem ceder a pressões indevidas.
G.: As pessoas devem acreditar que a política é a solução para os seus problemas?
J.F.B.: A política, por si só, não oferece salvação ou redenção. Somente Jesus salva. Somente Jesus está construindo a nova Jerusalém, descerá com ela dos céus e fará novas todas as coisas. O ser humano foi criado para “cultivar” (criar coisas novas que apontam na direção da bondade de Deus) e “guardar” (manter coisas boas que apontam na direção da bondade de Deus). Isso pode ser feito através da política, minimizando os danos causados pela queda e contribuindo para a construção de uma sociedade cada vez mais justa e solidária.
G.: Então não existe o candidato “salvador da Pátria”.
J.F.B.: Não existe candidato perfeito, sem passado ou pecado. O cristão sabe pelas Escrituras que todos nascemos no pecado, falhamos em muitos pontos e precisamos da graça de Deus para sermos salvos. Deve-se renunciar a qualquer idolatria ou fantasia que diz que qualquer homem ou mulher poderá “salvar” o Brasil, ou é “perfeito” para algum cargo. Todo e qualquer político eleito tem falhas e fraquezas que outros candidatos não terão. Todo e qualquer candidato tem qualidades únicas, que lhe foram dadas por Deus, já que todos são imagem e semelhança de Deus.
O candidato que se converte ou se apresenta como cristão pode ser tecnicamente inferior a um incrédulo e, portanto, menos indicado para exercer o poder do povo. Devemos assim fazer a melhor escolha numa perspectiva bíblica, fundada na realidade humana e espiritual dos fatos, do que é a natureza humana e o que é o ser humano colocado em posição de poder. Cabe ao cristão escolher aquele que, dentro de suas limitações, pode melhor promover o bem comum. Temos que ter o cuidado de não endeusar (achar tudo perfeito) nem demonizar (achar tudo péssimo) candidatos.
G.: Nesse sentido, como realizar a melhor avaliação técnica de um candidato, priorizando critérios objetivos em vez de se deixar levar pela emoção e encantamento?
J.F.B.: Não priorize a emoção em detrimento da capacidade técnica. O candidato mais qualificado para governar nem sempre é o mais carismático, engraçado ou cativante. O cristão deve olhar além das promessas e da teatralidade, avaliando a formação, o histórico e a competência técnica dos candidatos disponíveis, e as pautas que este defende e propõe.
G.: Como o cristão pode manter um equilíbrio nas pautas políticas, evitando sacrificar valores bíblicos em nome de ideologias específicas?
J.F.B.: É perigoso comprar o pacote ideológico de um político ou partido específico e acabar sacrificando outras pautas importantes para as Escrituras. Não devemos sacrificar pautas morais em nome da justiça social, nem o contrário.
O cristão deve buscar um equilíbrio maduro, reconhecendo (por exemplo) que a justiça social não deve ser sacrificada em nome da prosperidade econômica ou pautas de costumes, nem a moralidade cristã para acomodar as demandas dos movimentos sociais identitários. A preferência por um polo ou partido político não deve nos cegar às suas imperfeições e falhas, às qualidades do “outro lado” e ao que a Bíblia tem a dizer sobre tudo isso.
G.: Quais critérios os eleitores devem priorizar ao avaliar os candidatos a prefeito e vereador, além das promessas feitas durante a campanha?
J.F.B.: Os candidatos devem ter formação (no sentido mais amplo – incluindo formação política, acadêmica, profissional e de vida) compatível com o exercício do cargo pretendido. Seu histórico e sua reputação devem ser levados em conta, sua idoneidade e parcerias, as pautas que defendem diretamente e que fortalecem por meio de aliança com seus defensores.
G.: E em relação à liberdade religiosa, quais critérios o cristão deve considerar sobre esse tema em um contexto de crescente ameaça à expressão de fé?
J.F.B.: O Brasil contemporâneo enfrenta muitas ameaças à liberdade de expressão religiosa. É popular defender uma laicidade secularista que sonha em privatizar o fenômeno religioso, especialmente, calando a boca dos cristãos. O cristão deve considerar candidatos que defendam essa liberdade essencial. Embora não se deva esperar que políticos sejam evangelistas, proclamando verdades espirituais, podemos sim exigir que eles não atrapalhem, isto é, que permitam e protejam nossa expressão livre das verdades que Deus nos deu, na forma que cada igreja e comunidade nossa a entende e interpreta.
G.: Em época de campanha, dizem que muitos candidatos “se convertem”. Como o cristão pode discernir entre aqueles que genuinamente defendem a fé cristã e aqueles que a utilizam como uma ferramenta de manipulação para obter votos?
J.F.B.: Essa análise nem sempre é fácil, nem sempre será perfeita, mas podemos nos precaver e sermos sensatos. O cristão deve estar atento a discursos religiosos que servem apenas para pedir voto, descompromissados com o Evangelho e os anseios da população cristã do Brasil.
G.: Sobre os candidatos realmente cristãos, quais características e comportamentos os eleitores devem observar neles para identificar seu verdadeiro comprometimento com a ética, a transparência e os princípios bíblicos?
J.F.B.: A Bíblia estabelece em Tito 1 e 1 Timóteo 3 critérios para o exercício de autoridade na igreja. A pessoa não pode ser sexualmente promíscua, deve ser sóbria, prudente e respeitável, competente na fala, demonstrar autodomínio em tudo que faz, não sendo nem bêbado, nem violenta, nem apegada demais com dinheiro. Sua família, na medida em que ele ou ela conseguem influenciar, devem demonstrar valores e boa reputação. Sua reputação na sociedade como um todo deve ser levada em conta.
Acredito, pessoalmente, que são bons critérios para confiarmos o poder a alguém em qualquer esfera – não apenas na igreja, mas também numa empresa, num cargo público. Esses critérios em si já nos fornecem um filtro e tanto para avaliarmos os candidatos disponíveis e sua idoneidade para gerir a coisa pública, os assuntos que dizem respeito a múltiplas pessoas.
Nenhum será perfeito, e eventualmente não haverá ninguém que preencha perfeitamente todos os critérios. Acredito, porém, que o Espírito Santo pode iluminar nossos olhos e nos ajudar, no momento de decisão, a avaliar com honestidade, sem paixão desenfreada, quem é mais competente para o cargo disputado.
Quanto ao Cristianismo de candidatos que se apresentam como irmãos, a recomendação de pastores e outros cristãos que os conhecem, que podem atestar que são membros frequentes de uma comunidade de fé local, é imprescindível.
G.: Como o cristão deve lidar com a diversidade de opiniões e escolhas eleitorais de outros eleitores, evitando embates que podem gerar divisões e inimizades?
J.F.B.: O cristão não deve demonizar o voto de outras pessoas. Diferentes indivíduos possuem perspectivas variadas e estão expostos a diferentes realidades. O respeito pela escolha do outro é fundamental para um diálogo democrático saudável.
Vemos nas Escrituras múltiplas instância de discordância séria entre cristãos de verdade: Barnabé e Paulo divergiam sobre o que fazer quanto a João Marcos, Paulo divergia dos outros apóstolos focando nos gentios, e assim por diante. Às vezes chegamos depois num consenso. Às vezes o consenso nunca virá. Isso não impede a amizade, a convivência e a relação cordial.
Publicada por: RBSYS
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